Morreu na última quarta-feira, aos 60 anos, o médico dermatologista e professor da Fundação de Ensino Superior de Passos, Carlos Alberto Faria Rodrigues, um dos maiores nomes da luta contra a Hanseníase em Minas Gerais e no Brasil. Funcionário da FESP e da Secretaria de Estado da Saúde, foi fundador e coordenador do Núcleo de Assistência, Ensino e Pesquisas em Hanseníase (NAEPH), e também do Portal da Hanseníase, site pioneiro na divulgação de informações sobre a doença. O Núcleo da FESP leva o nome do médico.
O presidente do Conselho Curador Professor Fabio Pimenta Esper Kallas, lamentou a perda salientando que mais que um grande médico e amigo, Carlos Alberto era um grande cidadão. “A história do tratamento da hanseníase em Passos é dividida em antes e depois de Doutor Carlos Alberto Faria Rodrigues. Somos privilegiados por termos convivido com uma pessoa como ele que amou a profissão, amou o trabalho que desenvolvia, mas mais que isso, amou sem limite as pessoas”, declarou Fabio.
O dermatologista foi um dos pioneiros no tratamento humanizado aos hansenianos no Brasil e desenvolveu grande parte deste trabalho em Passos e região. Ele chegou a Passos no início dos anos 80, para participar de palestras sobre a hanseníase e depois para integrar a equipe do Posto de Saúde do município. “Ele trouxe muitas ideias e nós as abraçamos, foi um ganho muito grande para a cidade porque além de muito competente no diagnóstico e tratamento ele sempre foi muito preocupado com o aspecto social da doença”, afirma José Hernani da Silveira, secretário de saúde da época.
Pouco tempo depois ele também passou a fazer parte do corpo docente da Faculdade de Enfermagem de Passos, que iniciava sua primeira turma. “Como professor ele sempre ousou nas iniciativas e na forma de envolver os alunos em campanhas de esclarecimento sobre a hanseníase”, afirma a diretora de Núcleo Acadêmico de Ciências Biomédicas e da Saúde, Profª Tânia Maria Delfraro Carmo.
Seu currículo contabiliza mais de sessenta participações em palestras e cursos, sempre levando o conhecimento e desestigmatizando a hanseníase por todo o país. Na FESP ele coordenou o Núcleo de Assistência, Ensino e Pesquisas em Hanseníase (NAEPH) e o Portal da Hanseníase que viabilizou a capacitação de profissionais de saúde de todo o Brasil e até de outros países.
A enfermeira Lais da Silva Moreira estudou na FESP e desde o primeiro ano da faculdade trabalhou no departamento de hanseníase. Ela conta que por quatro anos acompanhou o trabalho do Dr. Carlos. Lais era responsável pelo abastecimento do site "Portal da Hanseniase". Entrou como estagiária e ficou até o último período em dezembro de 2012. “O Dr. Carlos foi simplesmente a pessoa mais humana e apaixonada pela hanseníase que eu conheci. Ele fazia com que seus pacientes, sentissem mais valorização e mais amor por si mesmos e eu sempre o vi lutar contra o preconceito e sempre dizia que a hanseníase não trás dinheiro, mas trás orgulho. Ele foi para mim um segundo pai e meu melhor amigo. Foi ele que me ensinou o que sou hoje. Me ensinou a amar a hanseníase e a ele agradeço por tudo”, declarou emocionada Laís.
O coordenador do Centro Vocacional Tecnológico da FESP, professor José de Paula Silva ressaltou a importância do trabalho do dermatologista para que Passos integrasse o Programa Rede Universitária de Telemedicina (Rede Rute). “Ele propôs que em 2012 se criasse um grupo especial de interesse em Hanseníase e utilizássemos a rede CVT como propagadora do conhecimento sobre a hanseníase em Minas Gerais. Assim nasceu o projeto REDE RUTE e CVT. Podemos agora levar a ciência a todos os cantos de Minas Gerais através da rede CVT/UAITEC - Rede Rute” relata o colega.
Também é do dermatologista Carlos Alberto Faria Rodrigues o mérito de ter colocado Passos entre as três primeiras cidades do país a oferecer o tratamento completo contra a hanseníase, a multidrogaterapia, utilizada até hoje. “Em 1986, o Ministério da Saúde implantou o tratamento em apenas duas cidades de Minas e o doutor Carlos deu um jeito de trazer também para Passos. Segundo ele, essa foi uma de suas “loucuras que deram certo”, lembra com carinho a professora Maria Ambrosina Cardoso Maia.

Foto usada pelo dermatologista em palestras e cursos
Antes da chegada do dermatologista atendimento era feito através de janela
Quando chegou a Passos, no início da década de 80, os “leprosos” (como eram tratados os portadores de hanseníase) eram atendidos sem qualquer tipo de contato com os médicos, através de uma janela. Ao ser integrado ao corpo clínico que atendia o município, ele mandou fechar a janela. “Ele começou a pegar os doentes pelas mãos, mostrar aos outros que o contato não era tão perigoso quanto todos pensavam”, relata a professora Maria Ambrosina Cardoso Maia, enfermeira referência técnica em Hanseníase da Superintendência Regional de Saúde de Passos e professora da FESP.
Ambrosina foi aluna do dermatologista, na primeira turma de enfermagem da FESP, e participou com ele das campanhas inovadoras de esclarecimento sobre a doença. “Ele mudou tudo. Nós saíamos pelos bairros da cidade, em carroças, levando panfletos e fazendo barulho com batuques para convidar a população para palestras de esclarecimento. Na época, ninguém sabia nem o que era a palavra hanseníase, só se usava a expressão lepra”, recorda a professora.
Repercussão nacional
A morte do dermatologista repercutiu entre profissionais ligados à área da saúde em todo o país. Através de redes sociais, emails e telefonemas, chegaram durante os últimos dois dias centenas de manifestações de gratidão e pesar, pela perda do ícone da luta contra a hanseníase.
A Superintendência Regional de Saúde de Passos encaminhou nota lamentando a perda do “colega e amigo, que muito contribuiu com seu trabalho para a melhoria de vida dos cidadãos de nossa região”.
A coordenadora do Programa Nacional de Controle da Hanseníase, do Ministério da Saúde, Maria Aparecida de Faria Grossi, também enviou suas condolências: “A ele, os nossos sinceros agradecimentos por mais de três décadas de dedicação às pessoas com hanseníase e suas sequelas. À família, o nosso abraço e nosso carinho neste momento de dor. A Deus que é Pai, que o acolha em seus braços com ternura”.
Do Rio de Janeiro, a professora do Serviço de Dermatologia da UFRJ Maria Leide W. de Oliveira, lamentou a morte de Dr. Carlos: “Minha grande admiração por esse colega tão comprometido com o ensino e trabalho em prol do controle da hanseníase. Fica uma lacuna não apenas em Minas Gerais, mas no programa brasileiro de controle da hanseníase. E muito mais, no círculo afetivo das pessoas, que como eu, partilharam momentos de trocas em diferentes situações, com um ser tão humanitário como Carlos Alberto, como por exemplo, nas conversas entre as refeições, durante viagens de trabalho, sempre tão prestativo e animado. É uma lembrança que irá me animar para continuar nosso trabalho”.
Pelo facebook, o Coordenador Nacional do Morhan, Movimento de Reintegração das Vítimas da Hanseníase, Artur Custódio registrou: “Toda a família do Morhan sentirá sua falta física, grande professor, grande profissional, grande ser humano. O país e a sociedade brasileira te deve muito!”
Também no facebook, integrantes do projeto “Franciscanos pela Eliminação da Hanseníase” enviaram: “Agradecemos ao Prof. Dr. Carlos Alberto Faria Rodrigues pelo incentivo e pelos seus ensinamentos, não só com os profissionais da saúde, mas para a população brasileira”.
FONTE: Departamento de Comunicação e Marketing FESP/UEMG